Julgamento do Google expõe 'morde e assopra' entre big techs

(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, os assuntos são: O uso disseminado de ferramentas de IA generativa está comprometendo nosso senso crítico e nossa criatividade?; Novas estratégias do Governo Federal para regular as redes; 'Morde e assopra' entre Google e Apple; A nova guerra dos browsers.)

Não é só a Meta enfrentando julgamento por monopólio. O Google também passa por algo semelhante. A empresa foi condenada por monopolizar as buscas na internet e agora o que se discute é como remediar a questão.

Uma das soluções é vender o Google Chrome.

A gente está numa fase do julgamento em que são convidados grandes nomes da tecnologia. Um deles é parceiro do Google, foi peça chave na acusação de monopólio e de alguma forma é rival também
Helton Simões Gomes

Para o jornalista, é uma relação de "morde e assopra".

A empresa a que ele se refere é a Apple, que ao mesmo tempo em que segue como uma "rival" do Google, é também sua cliente, justamente no âmbito dos navegadores. Em recente episódio de Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, Diogo Cortiz, professor e pesquisador, lembra que há uma relação comercial estipulada entre ambas.

Por ano, a Apple embolsa aproximadamente vinte bilhões de dólares para manter o Google como padrão de buscador dentro do Safari, o browser da empresa da maçã.

O Google se mantém como monopólio pagando. Mas se olhamos para o futuro, não está garantido para ninguém, porque o comportamento das pessoas parece estar mudando
Diogo Cortiz

Essa mudança de comportamento não passa despercebida pelas grandes empresas. Recentemente, Eddy Cue, vice-presidente sênior de serviços da Apple, afirmou que as buscas no navegador da empresa diminuíram. Ele atribui essa mudança de cenário ao uso de chatbots de inteligência artificial na hora de fazer buscas.

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Em depoimento durante o julgamento da Alphabet, empresa que controla o Google, Cue disse que essas plataformas eventualmente irão substituir buscadores padrão como o Google. Após as declarações, as ações da empresa caíram em 7%.

O que a Apple fez foi levantar essa bola que muita gente já vem cortando
Helton Simões Gomes

A Gartner, uma das principais empresas de consultoria do mundo, lançou relatório no ano passado prevendo uma queda de 25% no volume de buscas, puxadas pelo uso mais ativo de agentes virtuais e IA.

Uma nova guerra dos browsers no horizonte?

Era 2010 quando a revista norte-americana Wired estampou na capa: "The web is dead" (A web está morta) decretando o fim da navegação online, ainda que as pessoas continuassem online via e-mails, aplicativos de mensagens e streamings.

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Mas parece que os browsers estão cada vez mais em alta. Em novo episódio de Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes comentam que há um súbito - e crescente - interesse de grandes empresas na compra de navegadores.

Diogo Cortiz avalia que trata-se de uma mudança, que também envolve hábitos de consumo. Entre os interessados em adquirir a ferramenta do Google, Cortiz destaca a Perplexity, empresa de IA nos mesmos moldes da OpenAI (e que também já quis comprar o TikTok) e o Yahoo!

O browser acaba se tornando a próxima grande interface da nova onda de IA, que vai ser a dos agentes
Diogo Cortiz

O uso da IA nos deixa mais burros?

A ascensão de chatbots como o ChatGPT , Perplexity e Google Gemini é relativamente recente. Esses bots conquistaram as massas faz pouco tempo, mas aparentemente já estão contribuindo para uma queda cognitiva entre os humanos. Pelo menos é o que suspeitam algumas pesquisas.

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Só que algumas pesquisas mostram que esse efeito flynn pode estar estagnando. Ou pior, pode estar acontecendo o efeito flynn reverso, que é as próximas gerações tendo uma queda do QI
Diogo Cortiz

Existem hipóteses que apontam para o uso de IA e redes sociais como responsáveis por essa diminuição cognitiva. O pesquisador Michael Gerlich da Swiss Business School, realizou pesquisa com 666 pessoas no Reino Unido e identificou que há uma correlação entre diminuição do pensamento crítico e uso frequente de inteligência artificial.

Governo tenta apagar derrota do PL das fake news

O PL 2630/2020, conhecido como "PL das Fake News", que pretendia criar normas para as redes sociais e para aplicativos de mensagens privadas foi se transformando ao longo do tempo. O que começou como uma estratégia para evitar disseminação de desinformação, foi se modificando até se tornar uma tentativa de regular as Big Techs. Mas o projeto mudou tanto que morreu.

O não andamento do PL é considerado uma derrota para o atual governo, que agora tenta novas medidas para retomar as rédeas nesse segmento.

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Agora o governo desenvolve um projeto dentro do Ministério da Fazenda que vai dar mais poder ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A visão do governo é que o Cade tem poucas ferramentas para lidar com o setor tecnológico. As empresas são tão grandes e dominam tantos mercados que quando elas mudam alguma coisa, o regulador só vai perceber quando é tarde demais
Helton Simões Gomes

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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