Fenômeno luminoso em Hessdalen confunde cientistas desde 1981; veja

Ler resumo da notícia
Há pelo menos 40 anos, fenômenos luminosos transitórios são observados no Vale de Hessdalen, na região central da Noruega. Apesar dos estudos constantes no local, os cientistas ainda não conseguiram identificar de onde vêm as luzes que cortam o céu da região.
O Vale de Hessdalen e seus mistérios
O vale é conhecido por aparições luminosas que acontecem repentinamente e de maneira uniforme. Ao longo das décadas, esses fenômenos já foram observados por diversas testemunhas, sendo que alguns episódios foram flagrados por instrumentos geofísicos. O local fica a cerca de 400 quilômetros a norte de Oslo, a capital norueguesa.
Segundo estudo publicado em 2024 no Journal of Applied Geophysics, o primeiro relato do fenômeno aconteceu em 1811, mas a primeira aparição das luzes misteriosas foi registrada em 1981. No entanto, observações mais estruturadas e a investigação científica só começaram em 1984, com o surgimento do Projeto Hessdalen.
O Projeto Hessdalen ampliou os estudos do fenômeno a partir da instalação de câmeras no local e estudos de campo periódicos. Na última década, mais de 600 mil fotos foram tiradas pela Ostfold University College, que atua nas pesquisas de campo. A localização do Vale de Hessdalen, porém, dificulta o trabalho dos cientistas. "Durante o inverno, a temperatura pode ficar abaixo de -30°C e o vento pode soprar até 190 km/h", diz o estudo.
Ao examinar as imagens, os pesquisadores conseguiram observar características em comum entre as aparições. Segundo o estudo, a maioria das luzes do Vale de Hessdalen tem aparência branca. Outras cores, especialmente o vermelho, também foram ocasionalmente relatadas. No entanto, não há evidências suficientes para que os cientistas possam concluir se essas são variações das luzes do fenômeno ou se correspondem a outras fontes de luz que foram erroneamente consideradas como as "luzes de Hessdalen".
A duração das luzes pode variar de segundos a 1 hora, sendo que as observações mais comuns duram poucos minutos. Ainda de acordo com o estudo, as luzes têm formato esférico ou oval e, ocasionalmente, aparecem em aglomerados. "Elas podem ficar paradas ou se mover rapidamente pelo céu", explica o documento.
As luzes podem aparecer tanto acima quanto perto do horizonte. Quase 90 mil fotos foram tiradas em direção ao céu com lentes olho de peixe [lente ultra grande angular, cujo campo de visão é amplo, chegando a até 180º]. Mas nenhuma captura do fenômeno foi obtida com esta configuração, sugerindo que as luzes parecem relativamente próximas do solo Estudo publicado no Journal of Applied Geophysics
Fenômeno natural ou intervenção humana?
Um dos principais desafios para os cientistas é identificar se as luzes indicam um fenômeno natural ou se são produzidas pela atividade humana. Outras manifestações já conhecidas, como estrelas cadentes, também podem atrapalhar o estudo dos pesquisadores.
Desde o início das investigações, os especialistas levantaram diferentes hipóteses para o fenômeno. "Nossa suposição inicial era que, sob condições específicas (hidrológicas, meteorológicas, estrutura geológica, atividade eletromagnética), as interações entre o subsolo e a atmosfera da Terra poderiam resultar na geração de vários fenômenos geofísicos, incluindo luzes atmosféricas", explica o estudo.
A relação entre as luzes no céu e a atividade sísmica também foi discutida. Nesta hipótese, o movimento natural da crosta terrestre que se propaga por meio de vibrações (terremotos) poderia estar relacionado com o aparecimento das luzes. "Essa suposição se baseia no mecanismo de correntes elétricas ativadas por tensão em rochas, liberando portadores de carga móveis", diz a pesquisa.
Esta tese, porém, foi descartada pelo estudo. "Esses portadores poderiam fluir ao longo de gradientes de tensão acumulados próximos à superfície, levando à geração de luzes pela ionização de moléculas de ar". No entanto, a atividade sísmica na Noruega, especialmente no Vale de Hessdalen, não é suficiente para sustentar a teoria. "Nenhum terremoto de magnitude acima de 2,5 ocorreu desde 2000", explicam os pesquisadores responsáveis.
Estrutura geológica do vale pode justificar o fenômeno luminoso
Estudos geológicos indicam que os minerais que formam o vale atuam como condutores de eletricidade. Segundo o estudo, o Vale de Hessdalen é formado majoritariamente por rochas como gabro, anfibolito e filitos. Na porção oriental do vale, há também a presença de micaxistos.
Junto a demais fatores, como as características tectônicas da região, estes depósitos minerais —que podem ultrapassar os 100 metros de profundidade -, formam uma espécie de anel na superfície do solo. "Como resultado, esse anel condutor profundamente enraizado poderia aumentar a circulação e a concentração de cargas elétricas no solo", explica a pesquisa. A presença de lagos, lagoas, riachos e solos permanentemente úmidos facilitaria a condução destas cargas elétricas, propagadas para a atmosfera.

Apesar de ter se aproximado de uma teoria que explicaria o fenômeno, os cientistas indicam que ainda há um longo caminho pela frente. Segundo os pesquisadores, o "gatilho" para que as luzes se formem no céu não está totalmente explicado, e as hipóteses levantadas no estudo seguem em análise.
Fenômenos do tipo já foram observados em outros lugares do mundo. As luzes misteriosas já cruzaram o céu em Marfa (Texas, EUA), Silver Cliff (Colorado, EUA), Paasselkä (Finlândia) e Queensland (Austrália). "A estrutura geológica específica detectada no Vale de Hessdalen pode incentivar campanhas semelhantes em outras áreas onde fenômenos semelhantes são observados", relata o estudo.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.