Paula Gama

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Carros mais baratos: quais são as armas da Caoa Chery em guerra de preços

Quando a primeira leva de montadoras chinesas desembarcou no Brasil, há pouco mais de uma década, a promessa era de revolução.

Mas, na prática, boa parte delas enfrentou resistência do público e estrutura frágil de pós-venda, encurtando sua passagem por nosso país. A Chery é uma sobrevivente daquela época e resistiu graças a um trunfo estratégico: a aliança com a brasileira Caoa, formalizada em 2017.

Daí nasceu a Caoa Chery, com produção local em Anápolis (GO) e ambições de disputar mercado de igual para igual com as marcas tradicionais.

De lá para cá, a marca foi ganhando espaço, apesar de um novo desafio: o preço competitivo das novas marcas chinesas em operação no país.

Para brigar de frente, o ponto de virada veio em fevereiro de 2024. Foi quando a Caoa Chery lançou o Tiggo 7 Sport por R$ 135 mil. A partir daí, a estratégia ficou clara: responder à nova ofensiva das montadoras chinesas, como BYD e GWM, com agressividade comercial e uma política de preços que chamasse a atenção do consumidor brasileiro.

Mudança de linha, preços mais baixos

Caoa Chery Tiggo 8 Pro
Caoa Chery Tiggo 8 Pro Imagem: Divulgação

Desde então, a marca vem se movimentando com consistência. Em maio de 2025, anunciou a extensão da sua chamada "Política de Preço Justo" para os modelos eletrificados. Isso se traduziu em cortes: o Tiggo 8 Pro Plug-in Hybrid, por exemplo, teve uma redução de R$ 10 mil e passou a custar R$ 269.990.

Já o Tiggo 7 PRO PHEV ficou R$ 20 mil mais barato, caindo para R$ 219.990. Segundo a montadora, os descontos foram viabilizados por uma combinação de fatores: maior escala produtiva, ampliação da rede de concessionárias, crescimento nas vendas e estabilidade cambial.

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A estratégia culminou, em junho, no "Caoa Day", uma ação de vendas nacional que mobilizou as 210 concessionárias da marca. Ali, os descontos ficaram ainda mais agressivos: bônus de até R$ 30 mil, supervalorização do seminovo pagando até 110% da Tabela Fipe, parcelamentos com entrada só no 13º salário e até pagamento inicial só em junho de 2027.

Como cortes são possíveis?

Mas qual é o segredo por trás dessa fórmula? Segundo o consultor automotivo Cássio Pagliarini, tudo começa com boas negociações internacionais.

"O segredo da Caoa é fazer boas negociações. A empresa não pode se dar o luxo de perder dinheiro, mas tem boas negociações, tanto com a Hyundai quanto com a Chery, lá na China, que fornece kits CKD (veículos desmontados para posterior montagem no Brasil) a um preço bastante competitivo. Isso permite que a Caoa dispute esses mercados aqui no Brasil com preços bastante favoráveis."

Na prática, isso significa que a Caoa Chery apertou as margens e aumentou a escala de importação dos kits CKD. O resultado foi uma redução nos custos de produção que permitiu repassar descontos ao consumidor final, sem comprometer a sustentabilidade financeira da operação.

Os números mostram que a estratégia está dando certo. Em 2023, a marca vendeu 31,4 mil unidades. No ano seguinte, esse número saltou para 60,9 mil. Só nos primeiros cinco meses de 2025, já foram 23,5 mil veículos emplacados. Não por acaso, o Tiggo 7 se tornou o carro mais vendido da montadora, com mais de 3,2 mil unidades registradas apenas em maio.

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Em um cenário no qual as novas montadoras chinesas chegam com força e estrutura pesada, a Caoa Chery joga com outra carta: a experiência local, a produção nacional e a percepção de valor construída ao longo dos anos.

Ainda é cedo para saber quem vencerá essa nova guerra de preços no Brasil. Mas uma coisa é certa: a Caoa Chery está disposta a lutar.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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