Com jazz e músicos internacionais, Luedji Luna fecha trilogia oceânica

Uma imensidão de sons e sentimentos reverberam fundo em "Um Mar Pra Cada Um", o quarto disco de estúdio de Luedji Luna, lançado nesta segunda (26).

Contando com as participações de importantes artistas da música mundial, como a cantora Liniker, a saxofonista inglesa Nubya Garcia e o trompetista japonês Takuya Kuroda, o álbum é o terceiro capítulo de uma trilogia que representa o mergulho da baiana na temática do amor.

"É um disco sobre amor, como o 'Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água' (2020) e o '[Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água] Deluxe' (2022), mas em uma dimensão muito mais profunda e imersiva", comenta Luna.

"É o fim de uma trilogia. Encaro como o fechamento de um ciclo. Porque fui tão fundo e não sei se consigo ir mais fundo do que esse oceano abissal."

A vasta fauna marinha, com toda sua beleza e sua estranheza, serve de metáfora à cantora e compositora baiana, que convida o ouvinte a navegar num fluxo de canções confessionais. Assim, ouvir o álbum é ter a chance de imergir à verdadeira intimidade da artista.

"É o disco mais honesto dessa trajetória toda que começou lá em 'Um Corpo no Mundo' (2017). Sem dúvidas, é onde eu mais me exponho. Eu tô revelando a minha humanidade", explica.

Luedji Luna lança novo disco, 'Um Mar Pra Cada Um'
Luedji Luna lança novo disco, 'Um Mar Pra Cada Um' Imagem: Henrique Falci/Divulgação

O mergulho do novo disco

Sonoramente, 'Um Mar Pra Cada Um' cruza o neosoul e atraca no jazz, sendo o resultado da soma de uma coletividade ampla. Dentre os produtores das faixas, estão Curumin, Duda Raupp e Kato Change, além da própria Luedji e de seu marido, Zudizilla.

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"Politicamente também, faz sentido me apropriar do jazz, sendo uma mulher negra nordestina. Quebro com todos os estereótipos do que se espera de uma cantora baiana."

Sobre a escolha do elenco do disco, Luna conta que a construção instrumental foi sua bússola, guiada pelo spiritual jazz de músicos como John Coltrane e o seu clássico "A Love Supreme". "Eu priorizei os musicistas. Ubiratan Marques, Nei Sacramento, Angelo Santiago, Isaiah Sharkey? Até chamei o Kamasi Washington para esse álbum, ele topou, só que não mandou a tempo. Quem sabe aparece aí uma faixa bônus no futuro?", revela.

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Imagem: Henrique Falci/Divulgação

Poeta e Inteligência Artificial

Nas vozes principais, além de Liniker, está presente Talita Cipriano, filha da cantora Deise do Fat Family. Com ajuda da tecnologia, há também a voz da historiadora, ativista e poeta Beatriz Nascimento, recriada com Inteligência Artificial com o aval da família da intelectual falecida em 1995.

"Nesse momento, muito se critica a inteligência artificial, mas ao mesmo tempo muito se usa. Eu acho que a grande questão é como a gente usa essas novas tecnologias", avalia Luedji.

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"A filha da Beatriz Nascimento me deu um compilado de poemas da Beatriz e falou: 'Um dia, quero que você faça alguma coisa com o trabalho da minha mãe'. É um livro póstumo, e já que existia essa possibilidade de ela mesma recitar o próprio poema que ela nunca publicou, se a gente pode materializar isso a partir dessa tecnologia, por que não? Aí eu fui autorizada pela família, pedi todas as licenças, e ficou lindo. É a voz dela recitando o próprio poema no disco", conta.

Outro ícone da cultura nacional presente em "Um Mar Pra Cada Um" é Luiz Melodia, cuja "Pérola Negra" está citada na faixa "Jóia". "Eu não estou inventando a roda. Tenho três referências de artistas brasileiros que já bebiam do jazz, que meus pais escutavam muito: Luiz Melodia, Milton Nascimento e Djavan. Quero expressar aquilo que me formou musicalmente", declara.

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