'Treino híbrido' é novo hype da atividade física; entenda como ele funciona

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Lucas Bertollo Baggio, 24, acorda às cinco da manhã, corre antes das seis e, no fim do expediente, ainda vai para a musculação. Por causa dessa rotina, o engenheiro mecânico e criador de conteúdo de Florianópolis se define como "atleta híbrido".
"Treino por performance, e a estética é consequência. A corrida me trouxe uma disposição que eu não sentia só com a musculação", conta ele, que corre quatro vezes por semana, com orientação profissional, e malha outras quatro.
Já Pedro Augusto Neri, 27, também se identifica com a expressão e madruga para as práticas, equilibrando musculação com pedaladas cinco e quatro vezes por semana, respectivamente.
"Treino assim há quase dois anos. Descobri que posso fazer um pouco de cada coisa que eu gosto bastante, que são os esportes", diz.
A rotina dos dois representa o novo hype do mundo fitness: o chamado "treino híbrido", tendência que se tornou recorrente nas redes sociais e aparece em vídeos de celebridades, como do cantor sertanejo Lucas Lucco, que até mesmo empreende no ramo.
@lucaslucco ?Cupom: TIKTOK . DESISTIR, SÓ AMANHÃ! #fitness #workout #hybrid #motivation ? som original - Lucas Lucco
Em tese, a prática combina atividades aeróbicas com exercícios de força, como corrida e musculação —mas, para especialistas, o conceito não é exatamente novo. "O treino híbrido virou moda, mas é uma moda boa", diz Karina Hatano, coordenadora da pós-graduação de medicina do exercício e do esporte do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein.
Segundo a doutora, a onda do "treino híbrido" coincide com o atual "boom" da corrida de rua no pós-pandemia, quando muitas pessoas aderiram aos exercícios ao ar livre. "Como bastante gente começou a se lesionar, foi indicado a elas também o fortalecimento da musculatura", diz.
A questão, afirma Hatano, é que "híbrido" virou um rótulo genérico. O termo pode significar corrida e musculação, natação com pilates, crossfit com yoga, ou seja, qualquer combinação entre modalidades. Isso o diferencia, por exemplo, de métodos como o crossfit, que têm uma estrutura programada.
"'Treino híbrido' é uma proposta de organização, mas não é uma metodologia científica formal. É importante que haja um profissional de educação física para fazer essa programação. Senão, o risco de lesão cresce", alerta a especialista.
Já Paulo Henrique Silva Marques de Azevedo, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), prefere chamar o treino híbrido pelo nome técnico: treinamento concorrente. Este sim é reconhecido pela literatura científica. Segundo o professor, formado em educação física, o termo "treino híbrido" é um novo nome para algo antigo e uma tentativa de criar um novo nicho de consumo —mas o princípio é o mesmo.
@pedroaaugusttoo 10km na rede vizinha e 10km de corrida #corrida #corridaderua #motivacao #treino #atletahibrido #daily #academia #musculacao ? som original - Pedro Ner
"O treino concorrente é aquele no qual se treina capacidades físicas que, hipoteticamente, competem ou concorrem entre si", diz. "Ele acontece quando o treino de uma capacidade física influencia negativamente no desenvolvimento da outra, quando feitas na mesma sessão de treino ou com poucas horas entre elas."
Moda consciente
Os cuidados que ele indica àqueles que querem aderir a esse tipo de treino são os mesmos recomendados para outros exercícios: fazer avaliação física e de desempenho em resistência e força, com o auxílio de um profissional capacitado, para ampliar os ganhos e reduzir as chances de excessos no treino —e, claro, buscar manter uma alimentação adequada à nova rotina.
Karina Hatano, do Einstein, diz que seria melhor alternar os treinos, e não fazer tudo ao mesmo tempo. Um dia de corrida, outro de musculação, outro de descanso. O ideal, diz ela, basicamente é treinar aeróbico três vezes por semana e musculação duas, com pelo menos um dia de recuperação.
Já no que se refere à intensidade, que pode ser moderada ou intensa, ela bate de novo na tecla do acompanhamento especializado. "Quem faz essa programação é o profissional de educação física, que vai organizar tanto o dia de corrida quanto o de musculação."
Patrick Simão Carlos, especialista em fisiologia do exercício da Unifor (Universidade de Fortaleza), tem uma visão semelhante. Embora o sucesso do "treino híbrido" nas redes seja bom, pois pode estimular as pessoas a buscarem novas formas de se movimentar, deve-se levar em conta os cuidados necessários.
"Não ultrapasse seu limite. Não faça sem responsabilidade só porque o influenciador está fazendo; você pode se machucar, sim, e se machucar sério", afirma. "Por isso, procure um treinador registrado no Conselho Federal de Educação Física [o Concef], que tem especialidade e autorização legal.
Lucas Baggio, nosso personagem do começo da reportagem, afirma que "ser híbrido" fez sua vida evoluir em vários aspectos, inclusive na alimentação. Mas reforça especialmente a sensação de bem-estar que conseguiu alcançar após mudar a rotina de exercícios.
"Os treinos de corrida trazem uma explosão de endorfina que eu simplesmente não sentia na musculação, em que ficava mais acomodado. Hoje consigo me sentir muito mais capaz de me superar", diz.
Pedro Neri, por sua vez, enfatiza o prazer que os benefícios da prática proporcionam. "Ser 'híbrido' é ter liberdade de movimento, cuidar da estética e manter o condicionamento, que é o maior benefício da prática."
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