Gênios fora da curva: três hábitos polêmicos associados à inteligência

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A lista de hábitos de pessoas inteligentes, que volta e meia circula nas redes sociais, inclui alguns comportamentos um tanto controversos. O que esses traços têm em comum? Todos já foram tema de estudos.
Veja alguns desses hábitos a seguir e se faz sentido eles estarem relacionados à inteligência.
1. Madrugadas em claro
Alguns pesquisadores perceberam que pessoas que costumam dormir mais tarde, muitas vezes, aproveitam a madrugada para aprender mais — seja lendo, estudando ou assistindo a conteúdos educativos, como documentários. "Ir dormir tarde pode estar ligado ao prazer de adquirir conhecimento", explica a psicóloga Cristina Borsari.
Mas é importante não confundir as coisas: dormir tarde pode ser algo comum entre pessoas criativas e com boa capacidade intelectual, mas isso não quer dizer que todo mundo que vira a noite acordado é mais inteligente.
2. Falar muitos palavrões
Pesquisadores observaram que pessoas que usam palavrões com mais naturalidade e variedade tendem a ter um vocabulário mais amplo no geral — especialmente no que diz respeito a expressar emoções. Isso porque palavrões são parte do vocabulário emocional e expressivo, e saber usá-los com precisão (em vez de repeti-los aleatoriamente) exige um certo domínio linguístico.
Quem fala mais palavrões também é apontado por algumas teorias como tendo maior fluência verbal no geral, ou seja, consegue usar mais palavras corretamente, com mais rapidez e criatividade — mas, claro, nem sempre é assim.

3. Mesa desorganizada
Para alguns psicólogos, a relação entre desordem e inteligência está mais ligada à capacidade de manter o foco mesmo em ambientes caóticos. Pessoas com alto grau de concentração podem não se incomodar com estímulos externos (como barulho ou bagunça), o que lhes permite manter o desempenho mesmo em situações desorganizadas.
É aí que mora o problema de interpretação: muita gente confunde correlação com causa. Só porque alguns indivíduos inteligentes não ligam para a desordem, não significa que a desordem cause inteligência, ou que todo bagunceiro seja um gênio incompreendido.
"É o tipo de conclusão que funciona mais como um estudo de caso. Essa associação de comportamentos não é uma generalização que possa nos levar a entender que isso se aplica a todos os casos", explica Hélio Deliberador, professor de psicologia.
O que é ser inteligente?
Para entender as associações, é preciso rever a própria definição de inteligência. Durante décadas, o QI (quociente de inteligência) foi a régua universal. Medindo principalmente habilidades lógico-matemáticas e linguísticas, o teste virou sinônimo de "ser esperto". Mas com o tempo, essa régua mostrou ser curta demais.
Hoje, fala-se em inteligências múltiplas: emocional, musical, espacial, interpessoal, corporal, e por aí vai. Uma pessoa pode não brilhar em lógica matemática, mas ter uma sensibilidade emocional aguçada ou uma criatividade disruptiva — que também são formas legítimas de inteligência.
"Hoje, também abordamos outros elementos, como questões emocionais, na hora de falarmos sobre inteligência", explica Borsari. E os próprios testes de QI evoluíram, sendo constantemente atualizados para contemplar aspectos cognitivos e afetivos, seguindo metodologias rigorosas e legislação específica.
No fim das contas, se você realmente quiser saber o quão inteligente é, o caminho mais confiável ainda é procurar um profissional e fazer uma avaliação psicométrica séria. Afinal, comportamentos isolados dizem tanto sobre inteligência quanto usar um jaleco diz sobre ser médico — ou seja, quase nada.
*Com informações de reportagem publicada em 14/03/2019
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